foto: Cadu Souza
“Onde há perigo,
a salvação também emerge”
Friedrich Holderin
Num de seus mais famosos poemas, Patmos, o poeta alemão Friedrich Holderin compõe na primeira estrofe esse incrível verso que depois veio a ser estudado e citado por inúmeros filósofos e intelectuais. Nesse momento que estamos vivendo de pandemia global e isolamento social, estamos testemunhando muitos sentimentos, pensamentos e atitudes florescerem. Quem hoje não se encontra repleto de dúvidas, medo e angústia? No meio das artes marciais isso não é diferente.
Todo sistema de combate criado pela humanidade lida de maneira externa com a presença e contato com o outro, seja por meio do nosso corpo ou de nossas armas. Praticar uma arte marcial, por mais que seja visto como uma atividade individual, sempre foi algo coletivo. E agora nos vemos sem a possibilidade treinar com nossos parceiros e frequentar os dojos. No entanto, não devemos esquecer que basicamente todas essas artes são sobre um conflito simbólico. Apesar do perigo que se apresenta para o presente e futuro de nossas artes, é impossível para mim não ter em mente esse verso de Patmos, “a salvação também emerge”.
No Aikido isso tem sido visível. Primeiro: estamos nos unindo. Por mais lindo que seja nosso discurso de união e harmonia, não era isso que víamos entre nós. Difícil dizer se isso mudou, mas já venho testemunhando muitas ações entre praticantes de diferentes grupos. Muitos bate-papos on line estão contando com a presença de representantes de diversas associações. Esse contato virtual pode ser o início para um estreitamento de laços e um futuro mais unido. Segundo: acordamos para a importância das redes sociais. Nossa arte era muito mal inserida no meio digital. Justamente aonde os jovens estão, não estávamos com força e representatividade. Agora vemos muitos bons Aikidokas presentes nesse universo, criando suas contas, publicando conteúdo e ajudando a disseminar a arte. Terceiro: resgatamos o Hitori Geiko. O fundador do Aikido era famoso por sua dedicação ao treinamento individual, mas o que víamos nos dojos não era isso. Muita gente fazendo apenas o treino e achando que isso seria o suficiente para chegar num nível de excelência. Se esse elemento será inserido na rotina de prática dos alunos no futuro, não sei, mas só de muitos descobrirem que sim, isso existe, já é algo significativo.
Difícil dizer como será o futuro, ele sempre foi incerto e a pandemia não mudou isso. Mas vejo que muitos de nós estão arando suas terras e plantando boa sementes. Nessa semana, por exemplo, está tendo um seminário Internacional com jovens instrutores, promovido pela Tamashii Kokoro. Alunos de todo o mundo estão participando e ainda há tempo de se inscrever. Diversos mestres estão dando lives de treinos, sendo entrevistados ou escrevendo; Herbert Ran Ichi sensei é um exemplo.
O Minaka dojo, que já vinha numa dedicação de divulgar a comunidade feminina do Aikido, vai ter uma live com Renata Bohdanowicz sensei, 5° dan, da Birankai polonesa. Além disso, também estou dando lives de segunda a sexta, às 21h. Mesmo que não possa participar ao vivo, elas ficam disponíveis no meu canal do Youtube. Espero que essas ações gerem bons frutos para o nosso futuro, mas sinceramente, espero que elas sejam um meio de tornar esse presente um pouco mais ameno.
Excelente texto sensei, muito obrigado por nos ajudar na prática do aiki, nesses tempos de incertezas.
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Muito obrigado, Wagner!! Saudades de você, cuide se bem por aí. Forte abraço meu amigo!
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Espero que todo este conteúdo chegue aos jovens e estes cheguem um dia no tatame.
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Difícil saber se chegará, mas o primeiro passo é esse, produzir o conteúdo. Abraços, Marcos!
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Muito boa reflexão, engraçado que patmos é uma ilha grega, e aonde foi escrita o livro de apocalipse pelo apóstolo João .
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